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Springsteen: Salve-Me do Desconhecido – Um retrato intimista e a temporada de premiações

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • 2 de nov.
  • 3 min de leitura

Springsteen: Salve-Me do Desconhecido (2025) de Scott Cooper

Por: Daniel Victor.

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Acredito que as melhores cinebiografias são aquelas que estabelecem um recorte ao invés de tentar contar toda a história do biografado com muita pressa. Entretanto, ao estabelecer determinada delimitação, eu gosto de saber e aprender sobre quem está sendo apresentado. E em Springsteen: Salve-Me do Desconhecido sinto que fiquei no retrato intimista, mas extremamente apelativo, visando a temporada de premiações.


Baseado no livro de Warren Zanes, o longa retrata o processo de criação do álbum “Nebraska”, lançado em 1982 por Bruce Springsteen (Jeremy Allen White). E acompanhamos o biografado compondo enquanto enfrenta seus demônios internos.


Acompanhamos um dos maiores astros da música americana em um recorte bem específico. Nebraska, é um álbum cru, onde muita sinceridade e dor vêm sendo expurgada. Tal recorte da vida de Springsteen é uma escolha pouco usual, porque não conhecemos de fato o Showman, mas o indivíduo com inúmeras feridas emocionais.


Dirigido e roteirizado por Scott Cooper, é louvável que o realizador tenha escolhido contar essa história intimista do que criar uma cinebiografia para mostrar a grandeza de Springsteen. Porém, confesso que para mim estamos diante de um longa que ao invés de sinceridade, está mais se importando com a temporada de premiações do que um retrato honesto.


Talvez eu esteja sendo injusto ou pouco empático com a relação que tive com o longa. E, não é um crime pensar em ganhar prêmios pelo seu trabalho. Mas o filme se apresenta como um melodrama tão convencional, apelativo, e com inúmeros momentos de “essa cena é para fazer o público chorar”, que confesso que não consegui me apegar a proposta da obra.


Por mais que a atuação de Jeremy Allen White, que interpreta Bruce, seja de certa forma ótima, ela é diluída no melodrama apelativo. White consegue nos apresentar um homem amargurado, em busca de respostas em suas próprias canções. Os trejeitos de Springsteen são muito bem apresentados e conseguimos, por vezes, entrar na psique do personagem.


Entretando o longa é um melodrama convencional tão apelativo, que me afastou do protagonista ao invés de querer acompanhá-lo. Inúmeros Flashbacks, que mostram a difícil infância de Springsteen, o personagem sempre isolado e sofrendo, a relação Artista vs. Industria Musical, são montados no filme de maneira tão forçada para emocionar o público e justificar as composições do cantor.


Nesse retrato que busca o introspectivo, o drama é algo tão forçado, que as vezes em me perguntava: “Ok, eu sei que Bruce Springsteen tem inúmeros demônios e que estamos diante de uma cinebiografia para retratar isso. Mas quem é público-alvo desse longa? Apenas fãs que já conhecem o álbum? Essa abordagem não é um tanto hermética demais?


Enquanto acompanhamos Bruce no seu processo de criação do álbum, o longa tem inúmeras passagens com diálogos tão clichês para criar algo emotivo, seja com seu pai (Stephen Graham), seu empresário (Jeremy Strong) e seu interesse romântico (Odessa Young), que impressão é que estamos diante uma história que mira ao todo tempo cenas “Oscarizaveis”.


Apesar do longa ser sobre o álbum “Nebraska”, é até cômico que a passagem mais marcante do longa seja Springsteen no estúdio cantando e gravando junto a uma banda a canção Born to USA, que seria o disco seguinte do cantor.


Enquanto entramos na psique do personagem, o melodrama toma conta de forma que as emoções parecem às vezes superficiais, e joga contra a proposta estabelecida pelo próprio longa. Aqui o Desconhecido, que na verdade são os demônios que o artista não consegue lidar, me parece que a Salvação vem de forma que não retrata de forma honesta a dor o cantor carregava.


Springsteen: Salve-Me do Desconhecido é uma cinebiografia que foge do convencional pelo recorte, mas que cai no melodrama apelativo. No final aprendemos que Bruce Springsteen venceu seus demônios, mas pouco sabemos da figura de Showman e sua importância no mundo da música. O retrato hermético para o espectador, principalmente que não conhece o artista.

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Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

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