top of page

A Doce Ambiguidade de Bugonia: Ao Despir-se de sua Estética Estranha, Lanthimos acerta em criar um Drama Poderosamente Estranho

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • há 6 dias
  • 3 min de leitura

Bugonia (2025) de Yorgos Lanthimos 


Por: Daniel Victor 

ree

Goste ou não, é impossível sair indiferente das obras de Yorgos Lanthimos. O cineasta grego traz consigo narrativas que sempre abraçam a estranheza, o desconforto e o peculiar. Porém, em seu novo longa Bugonia, há uma grata surpresa: A ambiguidade. Pois ao despir-se de parte de estética estranha (assinatura do diretor), é que nasce um drama poderoso que se beneficia justamente por ser estranho.


Baseado no longa coreano “Save the Green Planet” de Jang Joon-hwan. O filme trata-se de uma comédia/sátira que envolve dois homens Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis), que acreditam em uma teoria da conspiração que envolve Michelle (Emma Stone), uma empresária de uma grande companhia, com a crença de que ela é uma alienígena. Ao sequestrá-la, a dupla pretende convencê-la de parar de querer destruir nosso planeta.


O longa faz jus às histórias da filmografia de Lanthimos. Entretanto, nesse filme, o diretor se despe de algumas de suas características estéticas recorrentes em suas obras. A lente “olho de peixe”, que causa distorção na imagem, uma direção de arte e design de produção mais arrojado. O foco recai no drama e nos personagens, que nos brinda com excelentes atuações.


O drama é focado no universo das teorias das conspirações, abrindo espaço para discutir o que leva alguém a acreditar em ideias aparentemente absurdas. Lanthimos demonstra um olhar mais compassivo com os indivíduos que passam a crer em algo, aparentemente, sem lógica. Ele sugere que as crenças doentias muitas vezes nascem de feridas reais, de traumas profundos, que adoeceram essas pessoas muito antes das teorias em si.


Teddy e Don são primos que se isolaram do mundo. Teddy acredita genuinamente que pode salvar a terra, porém, sua obsessão é movida por dores pessoais relacionadas a Michelle e sua empresa. Michelle é quase um estereótipo dos “empresários do mal”. Excêntrica, fria e cínica. Existe uma desumanização proposital que nos faz querer torcer por Teddy. Entre os dois, Don é o personagem mais sensato nesse conflito Ele é autista, e é cuidado pelo seu primo, o qual tem lealdade, entretanto, ele não concorda com sequestro e compadece por Michelle.


O título Bugonia ajuda a compreender a lógica interna da conspiração. O termo grego se refere à antiga crença de que abelhas surgiam espontaneamente de carcaças de bois. Uma teoria já refutada pela ciência, mas que revela como falsos mitos podem moldar crenças absurdas. Teddy pois está imerso na narrativa em que mesmo criou. Além disso, ele e Don criam abelhas, cuja extinção gradual, sem explicação aparente, torna ainda mais fácil para Teddy culpar Michelle e sua corporação.


Ao focar no drama, como ponto de partida para falar das dores de pessoas marginalizadas em contraponto a aquelas que exibem poder sem enfrentar consequências. O trio central está excelente: Teddy, em sua convicção inabalável, Michelle, com seu cinismo, quase deslocada da humanidade e Don, no impasse de acreditar no seu primo e não concordar com seus métodos. 


Entretanto, a bela sacada que Lanthimos durante o filme e no espectador: o “e se?”. E se Teddy estiver correto? O filme nos dá vários motivos para acharmos o absurdo na teoria da conspiração, mas também colocar em certos pontos a dúvida. Essa ambiguidade é muito bem desenvolvida.


Embora o roteiro tenha alguns problemas quanto a facilitação narrativa e aprofunde mais o micro (o drama humano) do que o macro (a conspiração em si), o longa ganha muito ponto nos acertos. Mas creio que a conclusão certamente dividirá o público. Uma resolução ousada e corajosa.


Bugonia é um longa que foca no drama ao invés da estética. Revelando que Lanthimos não precisa ficar preso a algumas muletas que por vezes não acrescentam em nada a narrativa. Gostando ou não, é impossível ficar indiferente no final da projeção.


Comentários


Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

  • Facebook
  • Instagram
bottom of page