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Oh, Canadá: Memória e Culpa se misturam em um longa pretensioso.

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • 6 de jun.
  • 4 min de leitura

Oh, Canadá (2024) de Paul Schrader


Por: Daniel Victor.

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Eu amo quando isso acontece. Escrever uma crítica de filme “positiva” ou algum filme na qual vários críticos detestaram (e o contrário também vale).  Isso mostra como a percepção para com uma obra de arte tem caráter subjetivo. E percebam que coloquei positiva entre parênteses. Pois o papel de um crítico, não é dizer se tal obra é boa ou não. Mas através da sua argumentação, tentar mostrar ao leitor (espectador etc.), seu ponto de vista, a fim criar um diálogo com seu interlocutor. Não determinando a qualidade do que está sendo analisado e nem condicionado o gosto de quem consome o texto que estou escrevendo.


Eu entendo o motivo de Oh, Canadá foi mal-recebido pela crítica. O longa é pretensioso e vários momentos errático. Entretanto, o exercício narrativo que a obra propõe em toda sua pretensão, se mostra no mínimo interessante. Onde vários elementos da linguagem cinematográfica são utilizados de maneira inteligente, criando simbolismo, metalinguagem e uma reflexão ética do que de fato deve ou não ser mostrado em um filme.


O longa é uma adaptação do livro Foregone, escrito por Russell Banksr. No qual, acompanhamos a gravação do documentário em homenagem ao famoso documentarista Leo Fire (Richard Gere), que sofre de um câncer raro e que dá seu depoimento sobre sua vida. Entretanto, o que testemunhamos é o último relato de um homem consumido pela culpa, que quer deixar registrado que toda sua fama e trajetória na verdade foi construída em torno de mentiras.


Roteirizado e dirigido pelo renomado e aclamado Paul Schrader: dois exemplos de excelentes de seus trabalhos é o roteiro do clássico Taxi Driver (1976) e direção e roteiro do excelente First Reformed (2017). Aqui o realizador propõe um exercício metalinguístico, explorando as possibilidades do que é verdade no e ético no cinema.


Primeiro que temos um falso documentário e ficção de um homem que não existe. Leo Fire está à beira da morte, e não é somente o câncer que o consome, mas culpa de ter toda sua fama construída na mentira. E a escolha que Schrader tem por meios de flashbacks de forma desordenada e confusa, é completamente crível, pois o protagonista estás sob efeitos de remédios fortes para seu tratamento, o que não o isenta de culpa, mas confunde propositalmente o espectador de não ser um narrador confiável. O que nos potencializa desde o começo o que diretor quer: O que de fato é verdade no cinema?


Juntamente com direção de fotografia Andrew Wonder, a escolha de planos e vários formatos vão encaixando a narrativa. Schrader sempre opta por enquadramentos centralizados ou no ângulo “meio que de lado”, como se protagonista estivesse em uma sessão de psicanálise, pois o protagonista como um famoso documentarista fazia exatamente assim nos seus documentários. “Deixamos a câmera parada, centralizada, e esperamos que outro fale, como num processo Freudiano.” Como passamos a maior parte do longa revivendo as memórias do personagem principal e a lógica de enquadramentos seguir o que o que lhe faz famoso é uma excelente metalinguagem para o longa.


Mas o que mais chama atenção é o fato de estarmos assistindo o passado de Leo Fire, então o protagonista em suas lembranças é vivido pelo ator Jacob Elordi. Entretanto, o ator Richard Gere aparece nas memórias, vivendo o personagem também. Tal recurso narrativo é inteligente, pois potencializa a culpa no presente e no passado. E reviver essas lembranças sempre com recurso do Voz Over (especialidade de Schrader), e utilizar as cores verde e amarela que marcam o protagonista, o uso do preto e branco nas memórias que ele sente mais culpa, potencializam a narrativa.


A montagem de Benjamin Rodriguez Jr. é confusa e desordenada de forma proposital. E por mais que seja justificável demonstra como o filme se torna pretensioso e muitas vezes quer passar o sentimento emotivo, que nunca de fato toca o espectador. Parece que Schrader implora para que se importem com a história contada. Close-up na atual esposa do protagonista Emma (Uma Thurman), soa como tão apelativo para “esse é momento para chorar”, que afasta quem está assistindo.


Pois em nenhum momento me senti envolvido pela história, mas por escolhas técnicas e narrativas. A cena em que descobrimos que o motivo que o protagonista foi dispensado do exército, além de patética, não faz sentido quando ela é inserida no longa. Nesse caso, eu entendo o motivo que tantos críticos detestaram o filme. Inclusive, temos uma cena pois crédito que não acrescenta em nada.


Porém eu faço uma pergunta ao leitor: Existe problema de filme querer ser pretensioso? Bem, independente de qual seja a resposta, eu acho engraçado que Oh, Canadá tenha competido a Palma de Ouro de Cannes 2024. Mas no mesmo ano, Megalópoles (2024) e Emília Perez (2024), também estavam na competição. E o que escutei bem de dois filmes que são extremamente pretensiosos de como eram fantásticos, principalmente o segundo que fez um grande alarde e concorreu a várias categorias no Oscar de 2025, até que literalmente, tudo que ele se propunha defender, ele fazia o oposto, me faz pensar que pelo menos como exercício narrativo, o longa de Schrader me soa mais honesto.


Bem, longe de mim parece pretensioso (desculpe o trocadilho). Não questiono a visão crítica ou sou crítico de críticos. Mas reforça o primeiro parágrafo do texto. Onde a apreciação de qualquer obra de arte tem caráter subjetivo, por mais que o crítico utilize de seu conhecimento e critérios para analisar a obra.


Oh, Canadá é um longa pretensioso que não esconde nenhum momento que que ser um. Por mais que enxergue seus defeitos, acho que como exercício narrativo, no mínimo faz bem o que propõe. Nem de longe se tornará um dos melhores filmes escritos e dirigidos por Paul Schrader. Mas confesso que soa mais honesto do que parece a longa que dizem não ter pretensão, é um festival de autoindulgência.

 

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Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

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