O Esquema Fenício: Quando a assinatura aprisiona a criatividade.
- Daniel Victor
- há 7 dias
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O Esquema Fenício (2025) de Wes Anderson
Por: Daniel Victor.

Wes Anderson sem dúvida é diretor com uma assinatura própria. Para quem não o conhece, aqui vão algumas características do seu cinema são: planos simétricos onde a uma clara divisão no quadro (como se tivesse uma linha que dividisse ao meio o enquadramento); cores vibrantes e muitas vezes com tons pasteis; cenários que parecem verdadeira maquete; movimentos de câmera que se movimentam através desse cenário de forma que ao mesmo dar um ar de fantasia aos locais; personagens excêntricos.
Eu realmente gosto de algumas das suas obras, porém tenho que confessar que às vezes sua assinatura que o torna único, tem me gerado incômodo. Pois enxergo no estilo que o consagrou, parece na verdade aprisionado sua criatividade. E que as formas de ele desenvolver suas narrativa, que por mais que ele tente modificar de projeto para outro, não alcançam todo seu potencial por estar justamente preso em um formato tão regrado. E temo que seu novo longa, O Esquema Fenício, representa o cansaço de seu estilo.
A trama conta a história do excêntrico magnata Zsa-zsa Korda (Benicio del Toro), um dos homens mais ricos da Europa e que tem inúmeros inimigos que o querem vê-lo morto. Porém, os planos do ricaço é deixar toda sua fortuna para sua filha Liesl (Mia Threapleton), uma freira que está nos seus últimos passos com para entrar em um convento e não quer se envolver em nada que envolva seu pai. Mas enquanto tenta convencer sua herdeira de sua herança, ele apresenta seu plano: um Esquema na região Fenícia que o vai deixar ainda mais rico. A partir daí, a trama se desenvolve, entre conspirações, relações familiares e de poder e um elemento inusitado: a morte.
O Esquema Fenício, nada mais é um longa onde Anderson utiliza um elenco estelar para simplesmente fazer o que o diretor já faz há mais de duas décadas. Enquanto viajamos pela região da fenícia, parece que é a película é só um pretexto para visitarmos vários locais e vemos atores conhecidos, que vão interagir os protagonistas, viverem situações inusitadas. Todo o elenco secundário de grandes intérpretes, parecem apenas “participações especiais”, do que um realmente ter algum peso narrativo. E tal elenco conta com nada mais que Tom Hanks, Bryan Cranston, Scarlett Johansson, Bill Murray, Hope Davies, Willem Dafoe, Benedict Cumberbatch e vários.
Antes que me perguntem: “Mas não foi sempre assim que Wes Anderson fez seus filmes?” E a resposta é sim e não. Pois a forma e estilo rigoroso do diretor está presente aqui. Porém, em diversos filmes Anderson investe em novas formas de narrar suas histórias. Como no Grand Hotel Budapeste (2014), que acompanhamos a passagem do tempo. Ilha dos Cachorros (2018), em uma animação que discute os a descriminalização contra imigrantes. A Crônica Francesa (2021), que é uma antologia de uma última edição de um jornal.
Aqui, o diretor tenta discutir a morte, relações familiares e uma história de conspiração que envolve os protagonistas. Mas tudo é tão mal desenvolvido, que o longa parece um amontoado de ideias, onde leva o espectador para vários locais, enquanto não nos importamos com a história contada. Mas pelo menos os personagens principais são interressantes.
O que realmente funciona no longa é o humor que vai de encontro ao nonsense e a relação do pai e filha que pensam e veem o mundo de forma oposta. Confesso que realmente achei graça em situações que condiz completamente com os personagens que Del Toro e Threapleton no estilo de Anderson. Vale lembrar que fora os dois protagonistas, também temos Michael Cera no papel do especialista em insetos, que apesar de sua atuação encaixar no estilo do cineasta, é um terceiro membro que seu arco narrativo não agrega nada ao longa.
Quando ao elemento das morte, Zsa-zsa Korda passa por alguns momentos e, o vemos no céu e isso vai mudando sua perspectiva sobre a vida. Mas no geral, o filme ganha força quando abraça o absurdo. Um exemplo é uma partida de basquete para que quem ganhar vai arcar com um contrato milionário.
Por mais que Anderson nos surpreenda no humor. Aqui temos a história mais sem graça da sua filmografia. Onde o “macro” da trama pouco importa e apenas lembramos de momentos isolados. O diretor com sua assinatura sem dúvida criou um cinema bem característico e onde ele tem nas mãos possibilidades de contar com elenco de peso, mas o que me faz questionar: O que realmente o Cineasta propõe? Seu estilo vai sempre sobressair na narrativa mesmo que não contribua? Acho que infelimente veremos o cineasta continuar na mesma toada, já que ganhou o Oscar de Melhor Curta-metragem por "A Incrível História de Henry Sugar" (2023) e junto a esse longa anterior, Asteroid City (2023), é segunda vez seguida que ele concorre à Palma de Ouro em Cannes.
O Esquema Fenício deve ser um prato cheio para os fãs da filmografia de Wes Anderson. Um cineasta que sem dúvida é único, mas que coloca sua assinatura à frente de qualquer narrativa. Por um lado, ele ainda mantém seu prestígio, mas por outro, está se tornando refém do que mesmo criou.
Para minha amada Rai. Uma artista que sempre se reinventa.
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