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O Brutalista: Em busca de um ideal perfeito, escondemos nossos demônios internos.

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • 17 de fev.
  • 4 min de leitura

O Brutalista (2024) de Brady Corbet

Por: Daniel Victor.


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Três coisas vieram ao término do longa O Brutalista: a primeira é o seu excelente apuro técnico em todos os setores do filme (terei de tocar na grande polêmica), apesar do baixo orçamento (US$ 9,6 milhões/R$ 58,5 milhões), para um escopo que tenta emular um épico da Hollywood nas décadas de 50 e 60. A segunda é a escolha proposital de intervalo pensada pelo diretor e também roteirista Brady Corbet, que prejudica sua película, em dividir em duas partes sua obra, onde na metade, um relógio aparece marcando 15 minutos em tempo decrescente, dividindo o filme. E a terceira é como a vários homens na história em busca de um ideal e ser célebre, escondem terríveis demônios internos, que se manifestam no exterior.


Dividido em duas partes, acompanhamos em ao longo de três décadas a história de László Tóth (Adrien Brody), um famoso arquiteto judeu que imigra para os EUA para fugir do Holocausto. Começando a vida do zero e com muitas dificuldades e no completo anonimato. Até que devido a um mal-entendido, ele conhece um cliente muito rico, o Sr. Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), que pede a Tóth que construa em suas terras um enorme monumento (No estilo arquitetônico do Brutalismo) em suas terras. Essa é a primeira metade, já na segunda, somos apresentados a esposa de László, Erzsébet (Felicity Jones) e sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy), que devido a Segunda Guerra, foram separados e somente anos depois o reencontro. Mas é justamente nessa metade do longa, que todos os conflitos se acentuam, mostrando que cada personagem esconde demônios internos, que serão externalizados.


Como dito anteriormente, o filme é um deleite técnico absurdo com o orçamento de filme independente americano. A direção de Corbet (que ganhou o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza de 2024 e no Globo de Ouro, também com outros prêmios), é incrível. Ele consegue criar um drama épico. A ideia em filmar todo o longa em VistaVision (processo fotográfico utilizado em alguns efeitos especiais, na década de 50 e 60), é brilhante. Já que o formato utilizado na película de 35mm na horizontal (diferente do padrão vertical), possibilita que a tela fique ampla e com maior resolução.


Juntamente com o diretor de fotografia Lol Crawley, note como os enquadramentos dão uma noção dos espaços sejam maiores, até ambientes fechados. O monumento encomendado ao nosso protagonista se destaca em largura e comprimento, mais do que altura. Em ambientes abertos, o movimento de câmera prioriza muitas vezes o travelling horizontal. A direção é esperta em nos “enganar“, filmando planos sequências (como no começo no longa), para emular espaços maiores. Mas obviamente, as 10 indicações ao Oscar de 2025, são justas (apesar de ter que tocar em dois pontos que não gostei). O som, a trilha sonora de Daniel Blumberg, com música que remete ora melancolia, ora sonhos e grandiosidade. E a montagem de David Jancsó, é eficiente em contar todas as tramas e camadas que o filme apresenta. Apesar que sentimos sim a o peso do tempo das 3h e 36min (mesmo com intervalo de 15min).


Todo elenco está ótimo. Adrien Brody, mas uma vez traz uma excelente performance (agora pós Holocausto, diferente de O Pianista). László Tóth é um personagem cheio de camadas, sendo um arquiteto obcecado pela perfeição, enquanto tenta esconder seus demônios internos. Mas realmente usar a Inteligência Artificial para deixar mais crível o sotaque Húngaro, meio que nos dá a sensação de “trapaça”. O magnata vivido por Guy Pearce, segue a mesma linha: um homem exemplar, mas que esconde um tropo narrativo, que já é amplamente criticado e discutido no Cinema, pois reforça estereótipos. E a cena que isso vem à tona, além de não acrescentar nada a história, só potencializa o desgosto que vamos ter com o personagem, que carrega um estereótipo antigo (primeiro ponto que não gostei).


As personagens de Erzsébet e Zsófia que entram na segunda metade introduzem ainda mais drama. Erzsébet, é uma mulher forte apesar de suas condições físicas (sem spoiler), já Zsófia, que inicialmente só entende e mais não fala inglês, futuramente será a personagem que mexerá com o casal protagonista, sobre ir ao Estado de Israel (tema que o filme toca, mas sem falar futuramente o que vai acontecer com a Palestina). Devido a personagem não falar a língua americana, a uma cena sutil, onde o personagem Harry Lee (Joe Alwyn), comete o mesmo crime que o pai Harrison Lee (Pearce), sendo o do patriarca sem sutileza alguma, carregando um estereótipo nefasto.


Apesar do bom roteiro escrito por Brady Corbet e Mona Fastvold seguirem a linha clássica dos três atos com um prólogo e um epílogo, realmente criaram um drama épico e cheio de camadas. A divisão de propósito em dividir o longa em duas partes, prejudicam o filme, claramente o segmentando. A primeira metade o estrangeiro e magnata, que apesar de já apresentarem suas facetas, estão em busca de um ideal: seja ele fugir da guerra e recomeçar a vida em outro país; a construção do monumento que irá abrigar todas as pessoas; e próprio “sonho americano”. Já na segunda parece que todos os conflitos explodem de vez. Às vezes se tornando bastante pesado. E definitivamente colocar no epílogo de 10min finais uma das informações mais importantes e impactantes do longa, não dá tempo de o espectador sentir toda a carga dramática (a divisão e o epílogo, é o segundo elemento que não gostei).


O Brutalista é sem dúvida um grande épico dramático. Tecnicamente perfeito, mas com elementos da história prejudicados principalmente pela forma que foi estruturado e concebido. A24 tem um candidato ao Oscar de 2025. Uma pena que gostei mais da parte técnica do que da narrativa contada.

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Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

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