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Homem com H: Uma grande celebração da vida e obra de Ney Matogrosso. Que escolhe o TODO, ao invés dos DETALHES.

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • 3 de mai.
  • 5 min de leitura

Homem com H de (2025) de Esmir Filho

Por: Daniel Victor.

Ao término do longa, Homem com H, enquanto sob os créditos, minha sensação foi: que filmaço! Ao que tange a Mise en Snène (Linguagem Cinematográfica + Atuações. E eu sei puristas, que essa não é a definição correta), a cinebiografia de Ney Matogrosso, dirigido e roteirizado por Esmir Filho, é um grande acerto. Entretanto, o que aprendi e sei de Cinema (Sim, eu sou um crítico formado em Cinema e Audiovisual), é que qualquer obra você sempre terá que fazer escolhas. E quando você resolve escolher fazer um panorama do TODO, você não consegue focar em todos os DETALHES, e obviamente, o contrário é válido. De forma alguma isso é um erro. Mas torna “incompleta” a experiência, pois é simplesmente impossível conciliar os dois. E o leitor vai entender melhor o que estou dizendo ao decorrer do texto.


No longa acompanhamos a vida e obra de Ney Matogrosso. Desde sua infância, adolescência e vida adulta. Já nessas duas fases da vida. Ney é interpretado magistralmente por Jesuíta Barbosa, em um grande e preciso estudo de personagem. A qual acompanhamos os passos de um dos artistas mais singulares da música brasileira e mundial. Convidados a conhecer o seu lado artista transgressor que continua até hoje. E sua intimidade mais pessoal e reservada. Descobrindo suas motivações, genialidade e demônios internos.


Dois elementos que desde o começo vão estar presente em toda a obra são: O primeiro é o tom animalesco que cerca Ney. “Eu sou um bicho.” Essa frase permeia o lado artístico que o biografado tem. Como se no palco, ele pudesse ser o que ele quiser. Isso está presente desde os primeiros minutos do filme, onde a montagem nos faz um paralelo de uma floresta e contraste a uma performance. E vai continuar sempre com elementos em cena, como cobras e os figurinos das apresentações. O segundo é a relação com seu pai (Rômulo Braga), o qual o sobrenome paterno “Matogrosso”, vai ser justamente servir como nome artístico do Ney, sendo como tudo que o biografado faz seja uma resposta a sua figura paterna, que é um homem bruto, homofóbico e que estar sempre conforme a regras. Esses dois elementos citados na por mim, irão ganhar novos significados ao longo da película.


Mas sem dúvida, Homem com H é um estudo de personagem. Jesuíta Barbosa dá um show de atuação: maneirismos, nas performances, no cantar, na sua timidez, no momento de intimidade. O corpo é algo muito potente que a figura de Ney Matogrosso, e o ator se entrega de forma que cremos que estamos assistindo o biografado em carne e osso. É claro que a direção e roteiro de Esmir Filho tem uma função primordial para construção para que Jesuíta e Ney se pareçam tanto. Diálogos precisos e como muita verdade, performances muito bem dirigidas, que mostra Matogrosso, sendo um artista disruptivo em várias épocas de sua vida. E os momentos mais intimistas, são mostrados sem pudor e com uma verdade e sinceridade ímpar. A direção cria inúmeros signos que têm significados e ganham novos sentidos durante a obra.


Mas temos que dar os devidos destaques a fotografia de Azul Serra e edição de Germano de Oliveira. Que nos situam cronologicamente das várias versões que Ney tem durante o filme. Sempre utilizando o espaço (principalmente das performances), uma apresentação mais impactante do que a outra. A interação de Matogrosso e seu público é algo forte e com elementos de admiração, que é como se estivéssemos diante a uma revolução (o que é de fato!). Os figurinos de Gabriela Monneart são perfeitos para vários ‘’Neys” que vemos em tela.


O elenco também se destaca. A Mãe (Hermila Guedes). que é o contraponto perfeito ao Pai. João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), perfeitos em seus papeis, que juntos ao Ney, formam o Secos & Molhados. E também a presença de Cazuza (Jullio Reis), que sempre foi descrito pelo biografado uma das grandes paixões de sua vida.


Mas se o longa é um grande acerto e digno de elogios, o que mais uma vez esse crítico chato (sim, eu sou), viu que não agradou? Homem com H é cinebiografia de Ney Matogrosso. E nisso é perfeita. Mas ao escolher o TODO, os DETALHES não são devidamente desenvolvidos. Secos & Molhados, não foi apenas uma banda com ascensão meteórica a qual se resume na apresentação de TV de “Sangue Latino” e uma série de cortes do público, como fotografias, para mostrar seu impacto.

A banda revolucionou musicalmente em plena Ditadura Militar Brasileira, visualmente e sonoramente: com rock, somado a um lirismo, psicodelia e essência presentes apenas na cultura brasileira. Apesar do longa dizer que Ney Matogrosso tem uma voz andrógina e única e que participou de coral e teatro, para mim é frustrante não mencionar o grupo teatral Dzi Croquettes (a qual tem um documentário homônimo dirigidos por Tatiana Issa e Raphael Alvarez), que teve influência nítida e direta no visual em Ney e os demais membros da banda.


A capa do segundo álbum da banda, com as cabeças dos membros em um banquete, dura segundos em tela. Outro exemplo é quando Cazuza diz “Essa é uma música para banda, Ney.”, ao se referir a canção “Pro Dia Nascer Feliz”. Por qual motivo não citar que Cazuza foi vocalista do Barão Vermelho? Será que o único outro músico que Ney teve contato foram Cazuza e Gonzaguinha? Que inclusive pede para o cantor grave um forró, “Homem com H”, que dá nome ao longa. E o potencial desperdiçado que poderia ligar Ney, o seu Pai e Cazuza, quando é apresentada a canção “O mundo é um Moinho”, de Cartola.


Eu não quero dar spoilers, ou ir a fundo. Mas por mais perfeita que seja o TODO: que a vida e obra de Ney Matogrosso. E o fato de ser um excelente filme, irei usar uma Hipérbole para vocês entenderem o que digo. Não a cinebiografia perfeita que trate toda vida de Paul McCartney (um exemplo), e os The Beatles serem apenas somente um momento dos vários da vida do músico. Toda obra tem de fazer suas escolhas. E acredito que Esmir Filho fez um trabalho primoroso. Mas esse DETALHES, por mais que sejam uma escolha ingrata de ficar de fora ou não ser contada da maneira correta, me frustrou bastante.


Homem com H é uma excelente cinebiografia que faz jus a vida e obra de Ney Matogrosso. Um estudo de personagem das várias eras do artista. Se o TODO é perfeito, infelizmente os DETALHES, infelizmente não foram devidamente desenvolvidos. No final, a escolha teve que ser feita, o longa de Esmir Filho, é sem dúvida um grande trabalho.

 

Para minha amada, Rai. Que é mais bela que baixo da música “Amor” 🐸❤


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Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

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