Milton Bituca Nascimento: A despedida e o legado de uma lenda. Apesar de uma estrutura problemática.
- Daniel Victor
- 17 de mar.
- 4 min de leitura
Milton Bituca Nascimento (2025) de Flávia Moraes
Por Daniel Victor.

“O que é a despedida diante da eternidade?” Nos pergunta Fernanda Montenegro que é narradora do longa documentário Milton Bituca Nascimento, a qual vai retratar e homenagear a lenda Milton Nascimento ou “Bituca!”. Porém, muito mais do que convidar a despedida em sua última turnê, o filme de Flávia Moraes está interessado em nos mostrar o legado de uma das vozes mais incríveis da história da música.
Filmado ao longo de dois anos, o longa registra os últimos shows de "Bituca” e captura a profunda conexão entre o artista, seus fãs e outros artistas admiradores ao redor do mundo. Dividido em duas partes da turnê de despedida (exterior e Brasil), o filme retrata o impacto universal de Milton Nascimento. Nos mostrando suas músicas e principalmente a voz de uma das figuras mais fascinantes da história da música. Com uma série de depoimentos que reafirmam o legado do cantor, em seus últimos passos na sua linda trajetória.
Quanto ao legado, importância e impacto que Milton tem ao redor do mundo, a diretora Flávia Moraes acerta em cheio. Em sua turnê de despedida que começa no exterior e culmina no show de encerramento no estádio Mineirão, o documentário é um deleite para principalmente quem já conhece a vida do artista. Com uma série de depoimentos e encontros, onde confesso que esse crítico teve dificuldade de anotar tantos nomes (uma hipérbole), de tantas figuras ilustres que vão falar de Nascimento de uma forma quase que “divina”.
É muito interessante como um menino que foi reprovado na aula de canto quando criança, hoje é P.H.D, na Berklee College of Music, onde suas músicas e voz é
estudada por músicos ao redor do mundo. Na primeira metade do exterior, acompanhamos Milton de perto, já com dificuldades de locomoção devido a idade, mas cheio de energia e simpatia. Nomes como Spike Lee e Quincy Jones, além de vários outros artistas e admiradores da obra do cantor, tratam “Bituca”, como uma lenda viva (o que de fato é). Sua voz é comparada ao trompete de Miles Davis, devido sua voz ser algo com uma assinatura única e quase como “divina”. É interessante como inúmeros entrevistados mesmos não entendem o que de fato as letras das músicas dizem, entretanto, relatam a sensação que ao ouvir a voz de Nascimento traz neles. Algo que não precisa ser compreendido mais sentido pois toca a alma.
Já na segunda metade no Brasil, mas figuras ilustres de amigos, parceiros e admiradores de diversos tipos e idades (assim como no exterior), celebram o legado de “Bituca”. Aqui Milton meio que “desaparece” (irei retratar isso melhor na parte de estrutura), e ficamos com depoimentos que emocionam. Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Gadú, Simone, Djalma Ribeiro e tantos outros nomes, falam da importância de Nascimento na música brasileira e em suas vidas. Confesso que quando Djavan cita a música “Morro Velho” e a montagem faz que Criolo e Mano Brown, cantam a mesma canção em locais diferentes, mostra como é universal e transcendental a obra do personagem principal do documentário, realmente me emocionou de uma forma que não esperava. Mérito da edição Laura Brum e Flávia Guerra. Outro elemento de linguagem cinematográfica a ser destacado é a belíssima fotografia de Pedro Rocha. Mas antes que fale da estrutura, vale salientar que o filme também toca em assuntos pertinentes, como racismo estrutural e preconceito.
Quanto ao legado e importância temos um deleite, principalmente para aqueles que já conhecem a obra do homenageado. Mas tenho que confessar dois elementos que me incomodaram na obra: O primeiro a estrutura do longa e a importância que alguns fatos são apresentados para o espectador, ora por muito tempo e ora rápido demais;
Entendo que logicamente talvez tenha sido mais fácil para equipe que acompanhava a turnê de despedida de perto no exterior, do que reunir Milton com os vários entrevistados no Brasil para celebrá-lo. Mas confesso que ver “Bituca” interagindo pessoalmente como os fãs e admiradores no exterior e no nosso país apenas vermos uma série de relatos importantes, mas a qual vamos retornar a ver Nascimento praticamente apenas no último show, é o tanto quanto frustrante. Pois ver o personagem central do documentário ser pessoalmente mais “próximo”, dos que estão fora do nosso país e na nossa pátria. E ele “desaparecer”, na segunda metade até o show e ficarmos apenas com os relatos, me soa estranho.
Outra escolha é tempo “gasto” em determinados pontos de grande importância serem ora bem com desenvolvimento longo e ora depressa demais, é um equilíbrio que o longa peca. Um exemplo é focar na importância das canções e “Travessia” e “Cais”, serem bem desenvolvidas no documentário. E na hora do show de despedida os membros do Clube da Esquina, como Lô Borges, tem pouco tempo de tela. E o concerto ser mostrado de forma tão apressada, que é quase inaceitável, que apenas em uma frase solta sabermos que álbum, Clube da Esquina, foi eleito o disco mais importante da música brasileira, é indefensável. Diversas vezes o filme mostra faz essas escolhas, nunca achando um equilíbrio correto para as informações para o espectador, que por sinal, vai sentir mais a vontade de já conhecer a obra de Milton.
Milton Bituca Nascimento é um documentário que acerta em mostrar o legado e importância de uma das vozes mais importantes e celebradas no mundo. Porém, é equilíbrio de como o longa é estruturado, peca diversas vezes. Mas para mim o saldo é positivo, pois Milton Nascimento tem que ser muito mais celebrado. Um artista ímpar na história da música.
Agradecimento especial dessa crítica para minha amada Rai, a qual é fã e me apresentou a obra desse grande artista.
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