Babygirl: Entre a fantasia e a perversão. Babygirl constrói uma resposta boba a quem queria responder.
- Daniel Victor
- 30 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Babygirl de Halina Reijn.
Por Daniel Victor.

Como cinéfilo e crítico de cinema, eu não sou um caçador de furos de roteiros ou de continuidade, a não ser quando esses elementos no filme prejudicam a obra. E amei saber que Babygirl é uma resposta ao último longa de Kubrick: De Olhos Bem Fechados (1999). Pois em ambos os filmes Nicole Kidman faz uma personagem que realiza desejos sexuais reprimidos. Porém, na película de 99 “Nós seguimos Tom Cruise para todo lugar. Nós nem sabemos o que Alice (Kidman), está passando. Estamos totalmente em sua mente, coração e alma. Eu quero saber, “E se ela tivesse ido e realmente tivesse vivido sua fantasia?” Isso Babygirl é minha resposta. E o que disse a diretora e roteirista Halina Reijn.
Isso é ótimo, pois é um olhar feminino em resposta ao olhar masculino, que muitas vezes, pode ser machista. Uma das principais sequência de Anatomia de uma Queda (2023), é uma resposta a outra cena de diálogo de História de um Casamento (2019). Por mais que um longa não anule o outro. A resposta de Justine Triet a Noah Baumbach, é muito mais efetiva e condizente ao relacionamento de um casal. Já em Babygirl, apesar de termos Nicole Kidman como protagonista (o que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 2024), a vivência de sua fantasia é destruída pela própria história que o filme conta, prejudicando-o como um todo.
Romy (Nicole Kidman), é uma CEO de sucesso e respeitada de uma empresa de tecnologia. Além de uma profissional exemplar, ela é uma excelente mãe e esposa. Seu marido Jacob (Antonio Banderas), formam um casal amoroso. Entretanto, nossa protagonista esconde uma faceta: Ela gosta de ser uma Babygirl. Uma fantasia/fetiche de ser dominada e humilhada, para prazer sexual. Eis que um novo estagiário Samuel (Harris Dickinson), ao perceber esse lado de Romy, e passar ser a pessoa que vai realizar a fantasias da personagem. Fazendo ela ter que escolher entre a mulher perfeita ou entregar-se aos seus fetiches. Pelo menos é o que o filme propõe, mas infelizmente falha.
Eu sei que vários puristas (um pouco contraditórios), vão dizer que ser Babygirl, é muito mais do que minha simplificação na sinopse (inclusive, até mais do que próprio filme mostra). Reijn, constrói um filme eficiente em suas dualidades. A empresa de tecnologia e desejo carnal. A mulher CEO (que é a dominada no sexo), e o estagiário (dominante no sexo). A escolha de usar vidros para separar os locais (sala, quartos, etc), é uma escolha muito bem inteligente, pois apesar de separados fisicamente, os personagens podem ver o outro. Além da metáfora visual da cadela e seu dono (que além de óbvio, a introdução é bem forçada).
Romy é uma mulher que lutou muito para estar no patamar profissional, social e familiar em que está. Ela é uma controladora, sempre ocupada e com celular na mão. A chegada de Samuel não é somente sexual. Aceitar ser uma Babygirl, que no começo a protagonista acha ser errado, mas depois se entrega. Vai além de uma relação de inversão de poder e a possível destruição do que uma mulher no mundo machista conseguiu e pode perder. Esse estudo de personagem é bem construído e Kidman realmente atua muito bem.
O problema mora justamente quando em determinado momento da história, o conflito tem que acontecer, para qual uma resolução (todas as narrativas são assim). Então quando Samuel passa os limites e interfere diretamente na vida de Romy, sua família e o seu marido Jacob. Tudo o que foi construído poderia ser simplesmente resolvido em uma conversa.
Como dito no primeiro parágrafo da crítica. Eu não sou um caça erros, a não ser quando seja muito evidente. A diretora constrói uma narrativa em que, sim, a protagonista tem forte desejo sexual reprimido a qual ela se envergonha. Porém, seu marido não se irrita por essa fantasia/perversão. Quando em determinada cena ele explode ao descobrir o relacionamento de sua mulher com Samuel. Não tem a ver com o sexo e muito mais com a traição. E sem dar spoilers, a resolução dos conflitos do longa é tão fraca, que reforça o que disse: Tudo poderia ser resolvido em uma simples conversa.
Babygirl de Halina Reijn consegue ser um bom estudo de personagem, mas quando tem que resolver o conflito, se sabota e não se destrói no final. Se a resposta é que mulheres podem ter sua sexualidade mostrada no cinema. O resultado é um belo SIM, vivido por Nicole Kidman. Mas em adotar uma abordagem realista, no qual a trama poderia ser resolvida de forma fácil, me fazendo pensar que uma simples conversa o filme poderia nem precisar acontecer. Eu prefiro o pesadelo de Kubrick, que não busca por explicações.






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