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O Auto da Compadecida 2: Uma continuação competente e que acerta. Porém, peca nos excessos.

  • Foto do escritor: Daniel Victor
    Daniel Victor
  • 16 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de dez. de 2024

O Auto da Compadecida 2 (2024) de Guel Arraes e Flávia Lacerda


Por: Daniel Victor.


A várias versões de O Auto da Compadecida para o cinema. Mas, sem dúvida, a mais popular é a da minissérie que se tornou filme em 2000. O Auto da Compadecida (2000) de Guel Arraes, é um clássico no cinema nacional. Com humor perfeito e atuações impecáveis, o longa, na minha humilde opinião, é que mais consegue unir o cômico e trágico da peça do mestre Ariano Suassuna.

Obviamente, uma continuação 24 anos depois seria tentar mexer em algo que já está no imaginário popular como a “obra definitiva”, não é uma tarefa fácil. Entretanto, posso afirmar que O Auto da Compadecida 2, é uma continuação competente e que acerta em diversos pontos, apesar de pecar em certos elementos.


Depois de 20 anos desaparecido, João Grilo (Matheus Nachtergaele) retorna à pequena Taperoá para se juntar ao seu velho companheiro Chicó (Selton Mello). Acontece que agora ele é recebido como uma celebridade na cidade. Afinal, reza a lenda que havia sido morto por bala de espingarda e ressuscitado. Disputado como principal cabo eleitoral pelos dois políticos mais poderosos da cidade, o Coronel Ernani (Humberto Martins), que engana o povo monopolizando a água da região e Arlindo (Eduardo Sterblitch), poderoso dono da única rádio da cidade. Conhecido pela esperteza nos negócios, para enganar a população. João Grilo usa sua popularidade, para enganar os dois, em um plano para enriquecer. Porém, nem tudo sai como planejado e ele terá de enfrentar novamente o mesmo julgamento entre Deus, o Diabo e claro, a Compadecida.


Dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda e roteirizado por Guel Arraes e João Falcão, com a colaboração de Adriana Falcão e Jorge Furtado. É preciso em contar uma nova história, respeitando o original e mantendo o teor crítico, espiritual, humorístico, fabulesco e nordestino de Suassuna. A continuação de manter todo o clima de uma narrativa tanto teatral e de um cordel.

As atuações de Matheus Nachtergaele e Selton Mello são perfeitas. Mesmo 24 anos depois, todas as características e trejeitos são mantidos iguais ao longa de 2000. Chicó, agora vive como um contista da morte e ressurreição do seu amigo. João Grilo aparece rapidamente anos depois de repente na história (e sua motivação é explicada no filme de uma maneira bastante emocionante). Juntos, eles entram em novas confusões, contam o que acontecerá um com o outro nesse tempo separados e vão revelando facetas que não conhecíamos dos personagens.


Chicó apesar de ser um contista, vai revelar algo que não sabíamos que é fundamental em sua trajetória. Já João Grilo, revoltado com a situação que o povo de Taperoá, na forma que eles são explorados, tanta enganar o Coronel e Empresário dono da rádio, para a fim de ajudar a população. Porém, sua fama de quase um “santo  “devido sua história sobe a cabeça, e suas motivações são dúbias. O que vai culminar no seu novo julgamento (não é spoiler. Tem no trailer).


Personagens retornam e novos são introduzidos. Todos são caricatos de forma intencional. Rosinha (Virginia Cavendish), a mulher de Chicó, agora é uma caminhoneira forte e independente. Joaquim Brejeiro (Enrique Diaz), o cangaceiro que atirou em João Grilo, retorna como capataz do Coronel. Clarabela (Fabiula Nascimento), é a filha do coronel que morava na capital e quer ser artista. Antônio do Amor (Luis Miranda), é um camelô, que trabalhou com João Grilo, enquanto ele esteve fora do Nordeste. Todos os personagens contribuem para a trama, mas o excesso de novas histórias, vão prejudicar alguns momentos dramáticos e cômicos.


A decisão de colocar o Coronel Ernani e Arlindo, que monopolizam elementos essenciais ao povo de Taperoá, é uma crítica precisa que aposto que Suassuna iria aprovar. Mas, infelizmente, como o forme a trama avança, vai perdendo força. Inclusive, o longa não é tão engraçado como seu antecessor, mas ainda é muito inteligente.


Mas antes de chegar na parte crucial da trama. Gostaria de salientar a brilhante fotografia de Gustavo Hadba e a direção de arte de Yurika Yamasaki, que estilizam o filme para torná-lo mais fantástico, potencializando os momentos dramáticos e cômicos. As histórias de Chicó, contando casos absurdos, contam com elementos de animação precisa. E obviamente, a clássica frase: “Não sei. só sei que foi assim!”, não poderia faltar.


Mas é claro que João Grilo vai novamente a julgamento. E a escolha de Deus e o Diabo, é muito precisa e inteligente. A Compadecida (Taís Araujo), mais uma vez, interfere a favor de João Grilo. Araujo faz um ótimo papel, mas não irei comparar a sua atuação com a de Fernanda Montenegro, pois seria injusto. O julgamento parte de uma premissa boa: João Grilo utilizou sua fama de boa fé para ajudar os outros ou para benefício próprio? Bem, a resposta é satisfatória, mas executada de maneira tão rápida, que não conseguimos sentir o peso dramático e nem cômico da sequência.


O longa termina fechando a película de maneira satisfatória e condizentes com a história que se apresentou. Mas com um tom abaixo do que o filme poderia ter sido devido os excessos de história paralelas.


O Auto da Compadecida 2 é uma continuação competente, que respeita o legado de Ariano Suassuna, e conta novas histórias para personagens tão amados. Apesar de pecar nos excessos, o saldo é positivo e fico feliz em rever João Grilo e Chicó juntos novamente.

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Para Amantes de Cinema

Persona Crítica. Propriedade Daniel Victor. Crítica de Cinema

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